quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Cortar o tempo em fatias...




Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente.

(Carlos Drummond de Andrade)

Procurando a íntegra desse poema do Drummond descobri um site chamado “pensador.info” que contém textos, frases e poemas de uma série de feras.
Pois bem, o tal do site é viciante!
É impossível parar de ler aquela sucessão de mistérios, desamores, obviedades que ninguém tinha se dado conta, poesias não raro bregas, crônicas muito criativas, milhares de frases feitas...
É um deleite!!! Recomendo a todos os que, como eu, se encantam com o poder das palavras bem misturadas...

Agora que tenho dedicado meus pensamentos a este blog, me dei conta, lendo aquilo tudo, que é praticamente impossível não ser um potencial plagiador! Mesmo sem intenção.
É que na verdade, em algum lugar do mundo, em algum momento da história, alguém já sentiu aquilo que estamos sentindo e que nos leva a despejar pro papel (ou pro blog) pra desocupar espaço na mente!
Na verdade, humildemente, o genial Mário Quintana já se tinha dito isso:

Qualquer ideia que te agrade,
Por isso mesmo... é tua.
O autor nada mais fez que vestir a verdade
Que dentro em ti se achava inteiramente nua...

Do site, fui selecionando um monte de coisas que eu gostava e tive a ideia de juntar todas essas ideias num texto de Ano Novo...
Eu sei, eu sei, pretensão pura!
Mas a modéstia nunca foi um os meus fortes mesmo, então vamos lá!

E então, já que me propus a falar de Ano Novo, me veio uma dúvida: por que comemoramos o Ano Novo se não temos a menor ideia de como ele vai ser? Não seria muito mais honesto comemorar o ano velho e as coisas que ele teve de bom?
Eu mesma dou a resposta: somos insatisfeitos por natureza! Sempre queremos que o Ano Novo seja melhor que o ano velho! Se deem conta de que eu escrevi Ano Novo e ano velho... o Novo é tão mais importante que mereça iniciais maiúsculas??? A partir de que mês ele pode ser considerado ano velho???
Mas o fato é que jamais haverá ano novo, se continuar a copiar os erros dos anos velhos. E não fui eu quem disse isso, foi Camões! Lá no século XVI!!!
E notem que ele não está sozinho nesse ideal: Fernando Pessoa concorda (beeeem mais recente) por que disse que a única maneira de teres sensações novas é construíres-te uma alma nova.

Eu já escrevi uma vez (embora não tenha publicado aqui - dá pra notar que esse é um tema que me atordoa!) sobre o “perder tempo”. E nem adianta dizer que não por que eu sei que a cada Ano Novo umas das promessas que fizemos a nós mesmos é a de aproveitar melhor o tempo.

Então vou te dar uma forcinha, citando o Millôr: Quem mata o tempo não é assassino, mas sim um suicida.
Já está ruim, né? Pode ficar pior: O tempo passa e o homem não percebe. Já disse o Dante Alighieri
que nasceu em 1265 e não tomou nem conhecimento da neurose do Século XXI, o excesso de informação, catalisado pela tal da Internet – sem a qual a maioria de nós não sabe mais viver!
Talvez o brindar o Ano Novo seja na verdade uma tentativa de embriagar as lembranças do que deixamos de viver no ano velho...

E assim como o aproveitar o tempo, o curar defeitos também está em alta nesta época. Mas muito cuidado! Ouçam a Clarice Lispector, pois até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro.
E mais, nesse negócio de cortar defeitos, não raro cortamos pessoas da nossa vida, sem lembrar que quem julga as pessoas não tem tempo para amá-las. E quando disse isso, a Madre Teresa de Calcutá
estava apenas reescrevendo a lição mais valiosa, a lição de vem de Deus (ou seja lá com que nome se apresente), de que somos todos irmãos e de que aqui onde estamos, não há melhor nem pior! Por mais que isso doa pra alguns, sempre é bom lembrar que somos todos iguais!

De repente, a solução pra tudo esteja dentro da própria cabeça! A mente que se abre a uma nova idéia jamais voltará ao seu tamanho original. A pena é que quando Einstein disse isso, ele ignorou os meios de comunicação de massa. Ele desconhecia o fato de que a Rede Globo manda e desmanda na maioria dos cérebros tupiniquins, potencialmente em desuso!

Mas, porém, contudo, entretanto, tem uma coisinha de nominho pequenininho que nos atormenta os dias, os meses, os anos e que alimenta cada virada de Ano Novo: o AMOR, num sentido bem amplo, seja por nós mesmos, pelos filhos, pela família, por alguém que ainda nem chegou na nossa vida ou que chegou mas teve que ir embora...
Que maneira linda encontrou o Jorge Luis Borges
de dizer isso:

Hoy no me alegran
los almendros del huerto.
Son tu recuerdo.

O pormenor está no seguinte: não foi, na verdade, o amor que foi embora. Não raro (ou quase sempre), nossos ideais é que foram embora!
E amanhã ou depois outros serão estabelecidos e isso num interminável ciclo. Resta-nos apreender que às vezes construímos sonhos em cima de grandes pessoas... O tempo passa... e descobrimos que grandes mesmo eram os sonhos e as pessoas pequenas demais para torná-los reais!. Olha só como é óbvio! Mas eu precisei que o Bob Marley
chegasse a essa conclusão por mim! E o cara era muito precoce... foi pro andar de cima com 36 aninhos...
Não quero ser chata, nem melancólica, nem nostálgica por algo que ainda nem vivi.
Mas se eu quisesse falar do tal do amor, não me faltaria inspiração!!!
Os grandes artistas das letras já dedicaram horas e mais horas, linhas e mais linhas a esse tema, construindo preciosidades como essa do Drummond:

O amor é grande e cabe nesta janela sobre o mar.
O mar é grande e cabe na cama e no colchão de amar.
O amor é grande e cabe no breve espaço de beijar.


O risco está em não colocar nada disso em prática e ter que admitir, como se obrigou Shakespeare
:

Não, Tempo, não zombarás de minhas mudanças!
As pirâmides que novamente construíste
Não me parecem novas, nem estranhas;
Apenas as mesmas com novas vestimentas.

No final das contas, haja o que houver, que nosso Ano Novo dê lugar ao nosso EU NOVO, mais feliz, mais aberto, mais amigo, mais desapegado, mais decente, mais vibrante!!!

Não sei se concordo com o Mário Quintana ou se tenho esperança de que essa máxima seja verdadeira: A amizade é um amor que nunca morre.
Mas nesse Ano Novo, a esperança está em aprender definitivamente com Khalil Gibran
que o amigo é a resposta aos teus desejos. Mas não o procures para matar o tempo! Procura-o sempre para as horas vivas. Porque ele deve preencher a tua necessidade, mas não o teu vazio.

É com carinho que desejo a cada um dos queridos amigos que se deu ao trabalho de vir ler minhas pretensiosas linhas, que o Ano Novo seja repleto de coisas boas, um conceito que pode ser muito diferente pra cada um de nós...

E desejo fortemente que todos nós, em 2010, possamos viver com plenitude e felicidade suficientes para plagiar Clarice Lispector e queixar-se:

Não tenho tempo pra mais nada, ser feliz me consome muito...

2 comentários:

  1. Pati!!!
    Recém hoje fui ler o novo post!
    Cheio de coisas boas, pra variar, cheio de perspectivas, o que estou precisando...
    Pois bem, li e, mais uma vez, fiquei encantada com a forma com que tu escreves...
    Que em 2010 tu escrevas mais!
    Amo!
    Bjs

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  2. Qerida Amiga!
    Texto maravilhoso só pra variar...Obrigada pelas tuas palavras..òtimo Ano pra nós!!
    Bjinhusss

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