quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Desinformação voluntária e espontânea


Desde o réveillon me voluntariei a um processo espontâneo de desinformação.
Não assisto TV.
Não ouço emissoras de rádio que deem notícias.
Quando folheio o Correio do Povo, só leio as manchetes e “olho as figurinhas”.
Na Veja e na Época, me restrinjo aos assuntos mais amenos (o que reduz o exemplar a umas oito páginas).
Na internet, apenas saites de fofocas jurídicas e, é claro, uma orkutada de vez em quando. Deleto sem ler os e-mails do tipo “ajudem a menininha”, “outra que não sabíamos” e afins. A maioria se trata de uma grande invenção, fato que não nos imuniza às más sensações deixadas pelas criativas narrativas.
Quando conheci a primeira pessoa que desistiu de entender o mundo, fiquei apavorada. Afinal, como pode alguém resolver não se informar? Decidir não saber o que está acontecendo no mundo? Optar por não ser uma “antenada”?
E mais uma vez dou o braço a torcer pra vida e pro aprendizado que tiramos de onde nem imaginamos.
Essa pessoa desinformada de quem eu falo estava coberta de razão!
Mas isso só estou vendo aproximados 12 meses depois. Tudo bem, vai ter muita gente que vai passar pela vida sem nunca saber disso...
Ter lido O símbolo perdido, do Dan Brow, na mesma época, também foi um grande incentivo a essa decisão.
O livro descreve com minúcias o requinte de crueldade utilizado pelo bandido contra os mocinhos.
Varei madrugadas lendo aquela porcaria (e sofrendo, e tendo taquicardia, e suando, e tendo pesadelos) porque precisava me certificar de que, no final, tudo terminaria bem.
E de fato termina, é uma obra de ficção.
Afinal, ninguém mais consumiria Dan Brow se Robert Langdon realmente morresse (putz... agora já contei, pelo meio do livro a gente acredita mesmo que ele tenha morrido!).
Mas na vida real, o buraco é significativamente mais embaixo. O final feliz geralmente não acontece. Ninguém volta à cena no capítulo seguinte depois de ter sido atacado pelo bandido.
Nunca tive medo de me alienar e sempre tive senso crítico (aliás, muito crítico e, mais ainda, autocrítico). Não estou me protegendo do imensurável poder da mídia em massificar opiniões. Estou me defendendo apenas da “vida como ela é”. Venenosa, ardilosa, inescrupulosa como bem retratou o Nelson Rodrigues.
Depois que resolvi me desinformar, assisti apenas três reportagens de TV.
Uma delas foi a queda do helicóptero da Record, filmada pelo onipresente Globocop. Ato contínuo, a jornalista da Globo, ainda com os destroços do acidente ao fundo, entrevistou o comandante do Globocop que deu maiores detalhes sobre o ocorrido, inclusive sobre a comunicação estabelecida entre o entrevistado e o falecido comandante do helicóptero acidentado, cujo corpo ainda jazia nas ferragens. Mau gosto extremo!
A outra, não cheguei a ver até o fim. A correspondente da Rede Globo (sempre ela!) no Haiti transmitia em tempo real o resgate de uma estudante que havia passado uns 15 dias sob os escombros. Desidratada, empoeirada, machucada. Mau gosto ao cubo!
Por fim, o assassinato do Alcides, um guri muito pobre, mas muito esforçado, que contrariando as forças do poderio econômico, entrou na universidade pública federal, no curso de medicina. Não chegou à formatura porque foi confundido com um desafeto dos bandidos. Na reportagem, a mãe inconsolável e o reitor da universidade aos prantos. Supra sumo do mau gosto!
Bastava terem narrado os fatos! Mas preferiram nos envolver emocionalmente na situação sobre a qual, infelizmente, não podemos fazer nada! O que eu posso fazer, faço pela humanidade. Rezo pela clemência divina e pela iluminação das mentes e corações. Mas isso não precisa de endereço fixo. Posso destinar à consciência cósmica e pronto.
Sei que as coisas estão acontecendo apesar da minha desinformação.
E também sei que vão continuar acontecendo apesar das minhas orações.
Mas o efeito de toda essa informação não vai poluir meu coração, minha mente e meus sentimentos. Se não posso ficar inerte diante dos fatos, se não consigo deixar que entrem por um ouvido e saiam por outro sem antes amargurarem minh'alma, prefiro não tomar conhecimento.
Isso eu já alcancei.
O próximo passo é tentar abstrair as informações geradas dentro da minha própria vida. Mas temo que em relação a essas talvez não seja assim tão simples... há anos que venho tentando descobrir onde foi que instalaram o botão do standby dos problemas...

5 comentários:

  1. Ai Pati!
    É tão bom ler o que tu escreve!!!!
    Continua tá...
    Bjs

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  2. Tenho q concordar com a Renata seus textos são ótimos...cada vez mais!!Maravilhoso!
    Bju

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  3. oiii paty...
    felizmente existe pessoas q escrevem bem, assim como vc é claro; pois assim podemos nos envolver com suas escritas e nos apaixonarmos cada vez mais pois o maior dom q poderiamos ter recebido de DEUS é o da comunicação, alguns super evoluidos conseguiram expandir esse dom nos levamdo da realidade a ilusão ou vice versa.
    parabéns!!!
    pois seus textos são extraordinários, q DEUS te permita muitas e muitas inspirações para q nós leitores possamos desfrutar cada vez mais, bjs...

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